A Hyundai anunciou nesta sexta-feira, 25 de fevereiro, o início da construção de sua fábrica na cidade de Piracicaba, interior de São Paulo. A empresa pretende investir 600 milhões de dólares – o que equivale a quase 1 bilhão de reais – nas obras.
Durante a apresentação da nova planta, a montadora não mostrou ambição apenas pelo estado da obra, já bastante adiantada, mas também pelos planos. Segundo Han Chang Hwan, vice-presidente da empresa para as Américas, a Hyundai vai deixar a Ford em quinto lugar no mercado já em 2013, um ano depois da inauguração prevista de sua unidade fabril.
"Venderemos 100 mil carros importados, 150 mil fabricados aqui, em Piracicaba, e 50 mil em sistema de CKD, em Anápolis, o que nos dará uma fatia de mercado em torno de 10%. Sem fábrica, já temos 3% do mercado", disse Hwan, acompanhado do diretor de produção da nova planta, Lee Young Tack.
O terreno tem 139 hectares, dos quais 7 serão dedicados à área fabril, a nova fábrica demandará um investimento de 600 milhões de dólares, com a geração de 3800 empregos diretos.
Os fornecedores, a maior parte deles de origem coreana, investirão mais 300 milhões de dólares, com um total de 6000 empregos em todo o complexo. Tudo, por ora, para fabricar apenas um veículo: o compacto HB. Esse é apenas o nome de desenvolvimento do projeto. O definitivo será diferente, sendo o mais cotado i15, para diferenciá-lo do i20 (modelo já vendido no exterior, que lhe cede a plataforma) e o i30, hatch médio de bastante sucesso no mercado brasileiro.
Segundo Song Young Hyun, diretor de desenvolvimento da Hyundai e "pai" do HB, o carro não tem nada a ver com o que já foi revelado pela imprensa. Havia três propostas de desenho para o carro, provenientes de cada um dos centros de estilo da marca: um europeu, um americano e um coreano. Clínicas no Brasil ajudaram a escolher o modelo vencedor, que agora está na fase de testes no centro de desenvolvimento da sede da empresa, na Coreia do Sul.
A fábrica de Piracicaba também vai representar uma mudança organizacional dentro da Hyundai no país. Hoje, a fábrica de Anápolis produz carros da Hyundai (o Tucson, especificamente), mas pertence a Carlos Alberto de Oliveira Andrade, cujas iniciais formam a sigla CAOA, nome da atual importadora de veículos Hyundai. Com a instalação da marca no interior paulista, o comando das vendas, marketing e produção passará à empresa, restando a Andrade o papel de "parceiro".
"Ele (Carlos Alberto) ajudou muito a marca a crescer por aqui, continuará a nosso lado", disse Hwan. O presidente da operação brasileira será o executivo Kim Seong Bae.
Dívida? Que dívida?
O estado adiantado das obras e a presença de autoridades como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, no lançamento da pedra fundamental da fábrica ajudaram a Hyundai a mostrar confiança em seu projeto de implantação no Brasil. Apesar da dívida de 1,7 bilhão de dólares que pesa contra a AsiaMotors. Que foi comprada pela Kia, na Coreia do Sul, em 1997. Que foi comprada pela Hyundai, no ano de 1998. Em outras palavras, a Hyundai pode ser vista como sucessora da dívida contraída pela Asia nos anos 1990.
A história começou da seguinte forma: a Asia, em parceria com empresários brasileiros, fez um acordo com o governo para a implantação de uma fábrica no Brasil. Pelo acordo, os carros importados da marca pagariam só 50% do imposto de importação devido, já que a empresa teria uma planta no país.
O problema é que a Asia teve problemas na Coreia do Sul e acabou sendo adquirida pela Kia. Com isso, a fábrica nunca saiu do papel, assim como a outra metade dos impostos devidos por cada Towner e Topic vendida no Brasil até aquele momento. A dívida, que estava na casa dos milhões de reais, cresceu com os juros e multas decorrentes do descumprimento do acordo com o governo.
Como a Asia pertence à Kia, que pertence à Hyundai, o governo federal pode considerar a marca como responsável pelo débito, três vezes maior do que o investimento previsto para a fábrica de Piracicaba. Se isso acontecer, a Hyundai pode tentar negociar a dívida ou simplesmente interromper a fábrica, cuja estrutura já se mostrava na cerimônia de lançamento de sua pedra fundamental.
As ações de cobrança da dívida continuam tramitando. Uma lei poderia anistiar a dívida, mas será difícil algum político propor ao governo a renúncia de 1,7 bilhão de reais. Também será difícil algum deles se responsabilizar por colocar um ponto final nas pretensões da fabricante coreana. Ainda mais por uma dívida que ela não reconhece como sua. "A Asia e a Hyundai são empresas diferentes. Não temos nada a ver com a dívida que ela contraiu", disse Hwan. O final dessa história, ainda distante, está nas mãos da Justiça e dos políticos brasileiros.